Jogos Digitais: ‘Este é um grande mercado de trabalho que está se abrindo aos profissionais’

Jogos Digitais / PUC-SP / Dolemes

Matéria publicada no Estadão, no dia 24 de junho de 2012.

“O curso de tecnologia em jogos digitais tem duração de três anos e foi reconhecido pelo Ministério da Educação com nota máxima”, afirma o coordenador do departamento de computação da Pontifícia Universidade Católica (PUC – SP), David de Oliveira Lemes. “As áreas e competências relativas ao curso, o colocam dentro do campo do saber do Design”, explica.

De acordo com ele, a formação é ideal para quem gosta de programação e arte, em função do uso de desenho e modelagem 3D, roteiro e projetos de jogos digitais. “Os alunos recebem sólida formação humanista e tecnológica, ficando aptos a desenvolver e produzir jogos eletrônicos”, diz o professor.

Segundo Lemes, o mercado de trabalho está aquecido em função do grande número de empresas que estão surgindo e que têm como foco principal o desenvolvimento de jogos para dispositivos móveis. “Este é um grande mercado que está se abrindo para os profissionais.”

Depois de formados, os tecnólogos são absorvidos por produtoras de games, empresas que desenvolvem aplicativos para celular, agências de publicidade, editoras, produtoras de animação e filmes, empresas que produzem aplicativos de ensino a distância (EAD) e produtoras de websites.

O crescimento do mercado de games no Brasil


Entrevista concedida a Davi Rampazzo do jornal O Estado RJ sobre o mercado de games. Leia a matéria completa aqui.

Davi Rampazzo: Existe um mercado variado para desenvolvedores de jogo no Brasil ou ainda estamos engatinhando nessa área?

David de Oliveira Lemes: O mercado vem crescendo gradativamente no Brasil. Se antes o mercado de trabalho se restringia a desenvolvimento de games para internet e para publicidade, com a explosão de vendas dos smartphones, hoje temos uma grande quantidade de empresas que estão desenvolvendo para as plataformas mobile, sobretudo para iOS, da Apple e Android, do Google.

Davi Rampazzo: Você acredita em crescimento de curto a médio prazo nesse mercado dentro do nosso país?

David de Oliveira Lemes: Sim, o momento econômico está propício para isto. Hoje já existem muitas empresas desenvolvedoras de games no país e isso tende a crescer, sobretudo em função do crescimento dos cursos de graduação em Jogos Digitais.

Davi Rampazzo: Como você se envolveu com o blog GameReporter ?

David de Oliveira Lemes: Criei o blog em 2005, quando era editor do AOL Games. A AOL iria fechar no Brasil e eu queria continuar o trabalho que vinha fazendo. Em função disso, criei o blog.

Davi Rampazzo: Durante sua formação acadêmica existia algum curso ou projeto especial que se tratava exclusivamente de jogo ou você que teve tomar iniciativa?

David de Oliveira Lemes: Como estudei Mídias Digitais, foi fácil incluir games na pauta, mas tive que tomar a iniciativa. Hoje games já faz parte do currículo do curso de Bacharelado em Mídias Digitais da PUC-SP.

Davi Rampazzo: Os cursos oferecidos atualmente realmente preparam um profissional desse segmento ou existe uma certa carência de conteúdo dentro das instituições?

David de Oliveira Lemes: Os cursos sérios formam bem os profissionais para atuarem no mercado. Contudo existem muitos cursos oportunistas que aproveitam o aquecimento do mercado para lançarem cursos caça-níqueis.

Para ser um profissional do setor de games não basta apenas gostar de jogar…

Entrevista concedida a Helena Ometto, da Popular Science Brasil. A matéria foi publicada na edição número 7 da revista.

Helena Ometto: O que é necessário para ser um profissional do setor? O Brasil tem mão de obra para isso? Que tipo de diferencial um profissional desse setor deve buscar?

David de Oliveira Lemes: Para ser um profissional do setor de games não basta apenas gostar de jogar. É preciso gostar de construir um jogo, o que não é uma tarefa trivial. É preciso saber projetar, programar, desenhar e gostar muito deste mundo em intersecção: arte e tecnologia.

O Brasil tem mão de obra para isso sim. Existem muitos cursos de graduação e pós-graduação em jogos digitais que vem formando profissionais para atuar no mercado de jogos digitais.

O mercado no Brasil ainda é pequeno e competitivo, portanto o profissional deve se diferenciar pela qualidade do seu trabalho. Nem todos os que se formam em Jogos Digitais acabam atuando na área. Somente aqueles que se dedicam muito durante o curso e constroem um portifólio relevante.

Helena Ometto: Quais são as principais inspirações para o desenvolvimento de games hoje? A realidade ou a ficção fazem mais sucesso?

David de Oliveira Lemes: Um jogo, antes de mais nada, precisa contar com alguns fatores fundamentais para sua criação: desafio, diversão e recompensa. Estes fatores, além de outros existentes, ajudam no processo de criação de games. É difícil dizer se a realidade ou a ficção fazem mais sucesso, contudo, grandes franquias são baseadas na ficção.

Helena Ometto: Poderia falar um pouco sobre o desenvolvimento de jogos voltados para a educação e a sustentabilidade?

David de Oliveira Lemes: Não conheço jogos comerciais voltados para sustentabilidade, contudo existem muitas iniciativas que trabalham os games voltados para mudança social, como por exemplo o Games For Change, que já conta com sua versão brasileira.

Helena Ometto: Qual setor de games está mais em alta nesse momento (PC, consoles, smartphones) no mercado mundial? E no Brasil?

David de Oliveira Lemes: No mercado mundial, a alta sempre estará ao lado dos games para consoles em função do grande número de aparelhos e também do grande número de games produzidos. Contudo, o mercado de games para smartphones vem crescendo a cada dia. O Brasil tem um bom mercado de games online e o mercado de games para celular vem crescendo a cada dia. Inclusive existe muitas empresas nacionais faturando alto nesta área.

Helena Ometto: Existem especializações para o desenvolvimento específico de games para PC, smartphone, consoles?

David de Oliveira Lemes: Quando um game é desenvolvido, nos dias atuais, ele já é pensando para ser multiplataforma. Games para PC e consoles possuem as mesmas características pois hoje estas máquinas possuem uma excelente capacidade de processamento gráfico. Jogos desenvolvidos para smartphones precisam de outra concepção em função dos controles e limites do hardware.

Helena Ometto: É possível um desenvolvedor vender seus produtos de forma autônoma ou é necessário se associar a uma marca/empresa?

David de Oliveira Lemes: Vivemos em plena era dos jogos independentes onde um desenvolvedor por fazer seus games sozinhos e vender em lojas online como App Store, da Apple e Android Market, do Google. As ferramentas de desenvolvimento de games evoluiram muito e possibilitam que uma pessoa consiga fazer tudo sozinha.

Helena Ometto: O Brasil pode ser considerado um grande celeiro para jogos independentes? Existe um país que concorra diretamente com ele?

David de Oliveira Lemes: Em função das atuais tecnologias de informação e comunicação, ficou fácil criar, desenvolver, publicar e vender seus jogos. Em todas as partes do mundo pessoas estão partindo para o desenvolvimento de games independentes. Existem muitas iniciativas no Brasil assim como existem em outras partes do mundo. A Rovio, a produtora do game Angry Birds, fica na Finlândia.

Helena Ometto: Quais são as diretrizes, as disciplinas de um curso de games no Brasil? Elas se assemelham aos cursos internacionais? Quais pontos ainda precisam ser aprimorados?

David de Oliveira Lemes: Um curso de games é composto por diversas disciplinas, tanto de exatas, quando de humanas. Elas passam por programação, modelagem 3D, animação, criatividade, roteiro, game design, história dos games, entre outras. Os cursos internacionais seguem as mesmas diretrizes, a diferença é que muitos cursos lá fora contam com professores da indústria e aqui no Brasil a indústria ainda está em plena formação e desenvolvimento.

Helena Ometto: Os cursos universitários de games trazem disciplinas ou noções de empreendedorismo?

David de Oliveira Lemes: Os cursos universitários contam com disciplinas de marketing que abordam questões relacionadas ao empreendorismo, contudo, não conheço um curso que tenha disciplinas exclusivas de empreendorismo. Mas deve ter, basta procurar.

Helena Ometto: Há mercado para esses profissionais recém-formados no Brasil ou a maioria migra para outros países?

David de Oliveira Lemes: Há mercado para o profissionais recém-formados sim, contudo, apenas para os bem formados, ou seja, aqueles alunos que se dedicam intensamente, constroem um excelente portifólio e montam as bases para atuar no mercado. Muitas alunos acabam não entrando tão rápido no mercado, pois gastam mais tempo jogando do que estudando durante o curso de graduação em games.

Helena Ometto: Quanto custa fabricar um game? Qual o investimento?

David de Oliveira Lemes: Tudo depende to tamanho do game. Um game independente por ser produzido gastanto-se R$ 5.000,00 e um game complexo, de uma grande franquia, pode custar centenas de milhares de dólares.

Helena Ometto: Quais são os softwares e programas mais utilizados no desenvolvimento de games no Brasil?

David de Oliveira Lemes: No Brasil, como em todo mundo, são usados softwares de modelagem 3D, softwares de manipulação de imagens e ilustração e frameworks de desenvolvimento como Unity 3D, ShiVA 3D, Unreal Development Kit entre outros. Contudo, mas do que os softwares, o que é muito importante são os fundamentos em game design, programação, ilustração, modelagem 3D…

Conseguimos jogar uma história como se estivéssemos jogando um filme…

Entrevista de uma pergunta só feita por Melina Pockrandt da Literato Comunicação e Conteúdo.

Melina Pockrandt: Como a evolução da tecnologia – dos consoles como Atari para os mais modernos, como Xbox e Wii, até os jogos de PC – mudou a forma de jogar games?

David de Oliveira Lemes: A forma em si não mudou, pois ainda precisamos de um monitor ou tela de TV e um joystick para jogar. Contudo, com o avanço da capacidade de processamento gráfico dos consoles e computadores, em muitos jogos, a qualidade gráfica beira o realismo puro, e com isso, conseguimos jogar uma história como se estivéssemos jogando um filme no cinema. Com este realismo vem também a imersão, que nos conecta à história e faz com que a vivenciemos cada vez mais intensamente.