Entrevista concedida a Helena Ometto, da Popular Science Brasil. A matéria foi publicada na edição número 7 da revista.
Helena Ometto: O que é necessário para ser um profissional do setor? O Brasil tem mão de obra para isso? Que tipo de diferencial um profissional desse setor deve buscar?
David de Oliveira Lemes: Para ser um profissional do setor de games não basta apenas gostar de jogar. É preciso gostar de construir um jogo, o que não é uma tarefa trivial. É preciso saber projetar, programar, desenhar e gostar muito deste mundo em intersecção: arte e tecnologia.
O Brasil tem mão de obra para isso sim. Existem muitos cursos de graduação e pós-graduação em jogos digitais que vem formando profissionais para atuar no mercado de jogos digitais.
O mercado no Brasil ainda é pequeno e competitivo, portanto o profissional deve se diferenciar pela qualidade do seu trabalho. Nem todos os que se formam em Jogos Digitais acabam atuando na área. Somente aqueles que se dedicam muito durante o curso e constroem um portifólio relevante.
Helena Ometto: Quais são as principais inspirações para o desenvolvimento de games hoje? A realidade ou a ficção fazem mais sucesso?
David de Oliveira Lemes: Um jogo, antes de mais nada, precisa contar com alguns fatores fundamentais para sua criação: desafio, diversão e recompensa. Estes fatores, além de outros existentes, ajudam no processo de criação de games. É difícil dizer se a realidade ou a ficção fazem mais sucesso, contudo, grandes franquias são baseadas na ficção.
Helena Ometto: Poderia falar um pouco sobre o desenvolvimento de jogos voltados para a educação e a sustentabilidade?
David de Oliveira Lemes: Não conheço jogos comerciais voltados para sustentabilidade, contudo existem muitas iniciativas que trabalham os games voltados para mudança social, como por exemplo o Games For Change, que já conta com sua versão brasileira.
Helena Ometto: Qual setor de games está mais em alta nesse momento (PC, consoles, smartphones) no mercado mundial? E no Brasil?
David de Oliveira Lemes: No mercado mundial, a alta sempre estará ao lado dos games para consoles em função do grande número de aparelhos e também do grande número de games produzidos. Contudo, o mercado de games para smartphones vem crescendo a cada dia. O Brasil tem um bom mercado de games online e o mercado de games para celular vem crescendo a cada dia. Inclusive existe muitas empresas nacionais faturando alto nesta área.
Helena Ometto: Existem especializações para o desenvolvimento específico de games para PC, smartphone, consoles?
David de Oliveira Lemes: Quando um game é desenvolvido, nos dias atuais, ele já é pensando para ser multiplataforma. Games para PC e consoles possuem as mesmas características pois hoje estas máquinas possuem uma excelente capacidade de processamento gráfico. Jogos desenvolvidos para smartphones precisam de outra concepção em função dos controles e limites do hardware.
Helena Ometto: É possível um desenvolvedor vender seus produtos de forma autônoma ou é necessário se associar a uma marca/empresa?
David de Oliveira Lemes: Vivemos em plena era dos jogos independentes onde um desenvolvedor por fazer seus games sozinhos e vender em lojas online como App Store, da Apple e Android Market, do Google. As ferramentas de desenvolvimento de games evoluiram muito e possibilitam que uma pessoa consiga fazer tudo sozinha.
Helena Ometto: O Brasil pode ser considerado um grande celeiro para jogos independentes? Existe um país que concorra diretamente com ele?
David de Oliveira Lemes: Em função das atuais tecnologias de informação e comunicação, ficou fácil criar, desenvolver, publicar e vender seus jogos. Em todas as partes do mundo pessoas estão partindo para o desenvolvimento de games independentes. Existem muitas iniciativas no Brasil assim como existem em outras partes do mundo. A Rovio, a produtora do game Angry Birds, fica na Finlândia.
Helena Ometto: Quais são as diretrizes, as disciplinas de um curso de games no Brasil? Elas se assemelham aos cursos internacionais? Quais pontos ainda precisam ser aprimorados?
David de Oliveira Lemes: Um curso de games é composto por diversas disciplinas, tanto de exatas, quando de humanas. Elas passam por programação, modelagem 3D, animação, criatividade, roteiro, game design, história dos games, entre outras. Os cursos internacionais seguem as mesmas diretrizes, a diferença é que muitos cursos lá fora contam com professores da indústria e aqui no Brasil a indústria ainda está em plena formação e desenvolvimento.
Helena Ometto: Os cursos universitários de games trazem disciplinas ou noções de empreendedorismo?
David de Oliveira Lemes: Os cursos universitários contam com disciplinas de marketing que abordam questões relacionadas ao empreendorismo, contudo, não conheço um curso que tenha disciplinas exclusivas de empreendorismo. Mas deve ter, basta procurar.
Helena Ometto: Há mercado para esses profissionais recém-formados no Brasil ou a maioria migra para outros países?
David de Oliveira Lemes: Há mercado para o profissionais recém-formados sim, contudo, apenas para os bem formados, ou seja, aqueles alunos que se dedicam intensamente, constroem um excelente portifólio e montam as bases para atuar no mercado. Muitas alunos acabam não entrando tão rápido no mercado, pois gastam mais tempo jogando do que estudando durante o curso de graduação em games.
Helena Ometto: Quanto custa fabricar um game? Qual o investimento?
David de Oliveira Lemes: Tudo depende to tamanho do game. Um game independente por ser produzido gastanto-se R$ 5.000,00 e um game complexo, de uma grande franquia, pode custar centenas de milhares de dólares.
Helena Ometto: Quais são os softwares e programas mais utilizados no desenvolvimento de games no Brasil?
David de Oliveira Lemes: No Brasil, como em todo mundo, são usados softwares de modelagem 3D, softwares de manipulação de imagens e ilustração e frameworks de desenvolvimento como Unity 3D, ShiVA 3D, Unreal Development Kit entre outros. Contudo, mas do que os softwares, o que é muito importante são os fundamentos em game design, programação, ilustração, modelagem 3D…